De Sandra Paulsen
A gente aceita melhor um crime que parte de um criminoso comum, do que qualquer delito cometido por alguém em quem confiamos.
Em dez anos de Suécia, dou-me conta de que aceito com maior facilidade ler nos jornais, sobre a violência aí no Brasil , do que sobre um acidente de trânsito aqui. É como se, de um país desenvolvido, rico, espera-se sempre mais...
Com essa mesma lógica, tenho enorme dificuldade em conformar-me com as notícias sobre a pederastiano seio da Igreja Católica.
Dela, apesar do passado da Inquisição, das Cruzadas, do alheiamento quanto à escravidão e de tantos outros erros históricos cometidos, ainda espero algo bom.
As denúncias sobre pedofilia, pederastia e exercício ativo da sexualidade de padres me escandalizam, me comovem, me revoltam, me dão nojo, me assustam. Muito mais do que outras horríveis notícias sobre violência e abusos em qualquer lugar do mundo.
A razão? Ora, trata-se da minha Igreja!
Só consigo me tranquilizar um pouco e realizar minhas orações em paz, quando me lembro de que a hierarquia da Igreja é formada por seres humanos passíveis de erros e pecados, como todos nós.
Na missa de Quinta-Feira da Semana Santa, sentei-me no primeiro banco da catedral e não pude deixar de pensar no assunto.
Enquanto boa parte dos 162 padres da Diocese de Estocolmo se posicionavam em seus lugares, para a missa de confirmação dos votos, relembrando a escolha dos doze apóstolos, eu pensava: meu Deus, que horror!
A meu lado, meu filho adolescente me fazia lembrar dos meninos violentados e desrespeitados mundo afora. E dois filmes, La Mala Educación, de Almodóvar, e El Crimen del Padre Amaro, não saíam da minha cabeça.
Graças a Deus, minha agonia não durou muito e consegui focar minha atenção na oração.
O Bispo Anders Arborelius, um sábio, humilde e sempre em sintonia com seu tempo, abriu a missa com palavras de condenação aos padres pecadores, que mancharam, com seus atos, o nome da Santa Igreja. E, na homilia, voltou a tocar no assunto e a advogar pela faxina na Igreja e pela exclusão dos culpados.
Ser cristão, neste mundo de hoje, já não é fácil. Ser católico na Europa moderna é ainda mais complicado. Mas, é desestimulante, desencorajador, para qualquer católico, ler as notícias do México, da Irlanda, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália, do Chile e de tantos outros lugares, sobre os abusos cometidos por aqueles que deveriam nos apoiar nos momentos difíceis e nos relembrar do caminho da Luz.
Devo confessar que minha Semana Santa não foi tão boa este ano...
Que a imprensa continue denunciando! Que as pessoas diretamente ofendidas e suas famílias continuem tirando os podres dos seus arquivos empoeirados e colocando tudo sobre a mesa! Que os culpados sejam levados a enfrentar o julgamento e a justiça dos homens! Que o Vaticano tenha juízo e faça a faxina necessária! E que La Mala Educación nunca mais se repita!
Pois basta um facho de luz para derrotar a escuridão. E só uma chuva muito forte, uma tempestade com muito vento, para fazer a nuvem negra desaparecer...
Porque Jesus morreu para preservar a bondade eterna no coração humano criado pelo Pai e para que, Nele, encontremos forças para amar até o fim.
Que Deus nos ajude a preservar nossa conexão com Ele, mesmo quando confrontados com a doença e a mais profunda maldade.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
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