quinta-feira, 15 de abril de 2010

Hotel dinamarquês tem esquema de "pedaladas" para gerar energia

Publicidade da Reuters, em Copenhague

Um hotel dinamarquês lançou um esquema pioneiro de geração de eletricidade com pedaladas e espera que a ideia ganhe adesão em outros países.

O Crowne Plaza Copenhagen Towers, a 15 minutos de distância do centro da capital dinamarquesa e a cinco minutos do principal aeroporto da Escandinávia, instalou duas bicicletas ergométricas acopladas a geradores.

Os hóspedes serão convidados a exercitar-se nas bicicletas, e, se gerarem eletricidade suficiente, ganharão uma refeição gratuita.

Divulgação

Hotel dinamarquês oferece refeições em troca de pedaladas em bicicleta ergométrica, para gerar energia para o estabelecimento

A partir de junho, os hóspedes poderão correr contra o sistema de painéis solares do hotel, que tem 366 apartamentos, em uma tentativa de gerar mais eletricidade que os painéis.

"Quem conseguir gerar 10 ou mais watts-hora de eletricidade para o hotel receberá uma refeição de cortesia, incentivando os hóspedes a ficar em forma, reduzir sua pegada de carbono e poupar eletricidade e dinheiro", disse o hotel em comunicado.

Uma porta-voz do hotel, Frederikke Tommergaard, disse que a refeição de cortesia será oferecida apenas a hóspedes do hotel, e não visitantes não hospedados.

O valor da refeição --qualquer um dos pratos principais do restaurante do hotel ou do cardápio do bar no saguão --é de aproximadamente 240 coroas dinamarquesas (US$ 44), disse ela à Reuters.

As bicicletas ergométricas vão começar a funcionar em 19 de abril, e o plano é testar a ideia por um ano, com vistas a estendê-la a outros hoteis da rede Crowne Plaza, que integra o grupo InterContinental Hotels.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A nuvem negra sobre a Igreja Católica

De Sandra Paulsen

A gente aceita melhor um crime que parte de um criminoso comum, do que qualquer delito cometido por alguém em quem confiamos.

Em dez anos de Suécia, dou-me conta de que aceito com maior facilidade ler nos jornais, sobre a violência aí no Brasil , do que sobre um acidente de trânsito aqui. É como se, de um país desenvolvido, rico, espera-se sempre mais...

Com essa mesma lógica, tenho enorme dificuldade em conformar-me com as notícias sobre a pederastiano seio da Igreja Católica.

Dela, apesar do passado da Inquisição, das Cruzadas, do alheiamento quanto à escravidão e de tantos outros erros históricos cometidos, ainda espero algo bom.

As denúncias sobre pedofilia, pederastia e exercício ativo da sexualidade de padres me escandalizam, me comovem, me revoltam, me dão nojo, me assustam. Muito mais do que outras horríveis notícias sobre violência e abusos em qualquer lugar do mundo.

A razão? Ora, trata-se da minha Igreja!

Só consigo me tranquilizar um pouco e realizar minhas orações em paz, quando me lembro de que a hierarquia da Igreja é formada por seres humanos passíveis de erros e pecados, como todos nós.

Na missa de Quinta-Feira da Semana Santa, sentei-me no primeiro banco da catedral e não pude deixar de pensar no assunto.

Enquanto boa parte dos 162 padres da Diocese de Estocolmo se posicionavam em seus lugares, para a missa de confirmação dos votos, relembrando a escolha dos doze apóstolos, eu pensava: meu Deus, que horror!

A meu lado, meu filho adolescente me fazia lembrar dos meninos violentados e desrespeitados mundo afora. E dois filmes, La Mala Educación, de Almodóvar, e El Crimen del Padre Amaro, não saíam da minha cabeça.

Graças a Deus, minha agonia não durou muito e consegui focar minha atenção na oração.

O Bispo Anders Arborelius, um sábio, humilde e sempre em sintonia com seu tempo, abriu a missa com palavras de condenação aos padres pecadores, que mancharam, com seus atos, o nome da Santa Igreja. E, na homilia, voltou a tocar no assunto e a advogar pela faxina na Igreja e pela exclusão dos culpados.

Ser cristão, neste mundo de hoje, já não é fácil. Ser católico na Europa moderna é ainda mais complicado. Mas, é desestimulante, desencorajador, para qualquer católico, ler as notícias do México, da Irlanda, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália, do Chile e de tantos outros lugares, sobre os abusos cometidos por aqueles que deveriam nos apoiar nos momentos difíceis e nos relembrar do caminho da Luz.

Devo confessar que minha Semana Santa não foi tão boa este ano...

Que a imprensa continue denunciando! Que as pessoas diretamente ofendidas e suas famílias continuem tirando os podres dos seus arquivos empoeirados e colocando tudo sobre a mesa! Que os culpados sejam levados a enfrentar o julgamento e a justiça dos homens! Que o Vaticano tenha juízo e faça a faxina necessária! E que La Mala Educación nunca mais se repita!

Pois basta um facho de luz para derrotar a escuridão. E só uma chuva muito forte, uma tempestade com muito vento, para fazer a nuvem negra desaparecer...

Porque Jesus morreu para preservar a bondade eterna no coração humano criado pelo Pai e para que, Nele, encontremos forças para amar até o fim.

Que Deus nos ajude a preservar nossa conexão com Ele, mesmo quando confrontados com a doença e a mais profunda maldade.

Erros que matam

De Míriam Leitão:

Certas cenas são haitianas. E é Niterói. O Morro do Bumba é uma espécie de resumo dos erros: era uma encosta, era uma ocupação, era um lixão. Não foi a chuva que matou, foram esses erros somados.

A tragédia dos últimos dias no Rio traz tantas lições e confirma tantos alertas que só nos dá dois caminhos: corrigir os desatinos ou assumir de vez a insensatez.

Há cinco anos, a professora Regina Bienenstein, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) esteve no Morro do Bumba para estudar a situação de risco da comunidade.

— Isso já estava anunciado — diz a professora.

Deixar uma comunidade se instalar em cima de um lixão não faz qualquer sentido, explica o engenheiro e consultor ambiental Carlos Raja Gabaglia.

Ele conta que visitou muito aterro sanitário na Alemanha. Aterro não é lixão. Aterro exige que se coloque uma manta para proteger o solo da contaminação e outra para recobrir e proteger o meio ambiente. Em cima, pode haver urbanização, jamais construções. E isso porque o terreno cede.

— O processo de decomposição do lixo e a saída do gás metano fazem com que a área fique em movimento, há um rebaixamento natural. Não é um solo confiável para se instalar uma construção. Não suporta carga de imóveis — afirma.

No lixão do Bumba, não havia qualquer manta isolante, a população ali vivia exposta aos maiores riscos.
Segundo o professor Julio Cesar Wassermann, coordenador da área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável da UFF, a comunidade estava exposta ao metano, que pode causar intoxicação e explosões.

— O lixo orgânico, quando sofre decomposição, forma esse gás explosivo. Mesmo em lixões antigos, o metano continua sendo produzido. O deslizamento liberou o metano. Já o chorume — líquido tóxico decorrente do lixo — grande parte dele já deve ter se infiltrado no lençol freático — diz o professor.

O presidente da Associação de Policiais e Bombeiros Militares Ativos e Inativos (Assinap), Miguel Cordeiro, disse que as doenças associadas ao lixão são dengue, leptospirose, infecções intestinais, doenças de pele, verminoses, bronquite, pneumonia, alergias, tifo, hanseníase e até câncer.

Olha só a soma dos absurdos que eles estão revelando. Aquela população que foi soterrada, vivia sob risco de explosões de gás metano, exposta a doenças, num terreno instável, cujo líquido tóxico já estava contaminando o lençol freático.

O deslizamento liberou esse metano para a atmosfera. E tudo já se sabia porque o assunto tinha até sido estudado. O gás metano é o segundo maior responsável pelo efeito estufa.

Ele é 20 vezes mais potente do que o CO2, mas é emitido em volume menor. Aquele lixão adoecia, poluía, punha em risco vidas. A avalanche provocou um desastre humano e ambiental.

Cordeiro nos contou que os aterro sanitários do Rio, Niterói e São Gonçalo são na verdade lixões disfarçados, porque não foi feito o trabalho de impermeabilização.

— No caso do lixão do Bumba, quando ele foi desativado, em 1986, jogaram meio metro de terra em cima para espantar os urubus e deixaram para lá. A população carente foi ocupando o espaço e nenhuma autoridade fez nada durante esse tempo — disse.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Maus atores na tragédia

Do blog do Alon:

Qual é o curso mais adequado para quem deseja seguir a carreira política? Administração pública? Direito? Ciências sociais com pós-graduação em ciência política? Economia? Jornalismo? Talvez Engenharia civil?

Pensando bem, certo seria tascar “nenhuma das anteriores”. A formação mais útil para o político é artes cênicas ou dramáticas. A política é antes de tudo um teatro.

O Rio de Janeiro foi arrebentado pelas chuvas nos últimos dias. O jornalismo moderno proíbe a expressão, mas aqui ela cabe: chuvas torrenciais.

Quando calamidade parecida atingiu com força o município fluminense de Angra dos Reis, em janeiro, notei que o PT ficou quietinho, ao contrário do que acontecera em São Paulo dias antes.

Pois no Rio o partido navegava nas águas do governo Sérgio Cabral (PMDB), enquanto em SP era oposição ao então governador José Serra.

Há alguma injustiça em o PT atacar ferozmente o PSDB pelas enchentes em SP? Nenhuma. Atacou foi pouco.

Governantes precisam ser criticados com a contundência necessária para tomarem as providências exigidas pela situação.

Importa menos se as críticas são justas ou injustas: elas devem ser suficientes para romper a inércia do poder, cuja primeira reação é invariavelmente achar que “tudo está bem”. Ou eximir-se de responsabilidade, quando não dá para fingir que está tudo bem.

Existe algo mais patético do que o pseudolíder choramingar, na hora do aperto, um meloso “a culpa não é minha”? Ou um revoltante “a culpa é do povo”?

O eventual melindre do presidente, governador ou prefeito não tem nenhuma relevância quando comparado ao sofrimento do sujeito que vê o resultado de uma existência de sacrifícios ser levado pela água. Isso quando a água não leva a vida do ente querido.

A precariedade dos atores e do enredo fica mais visível quanto mais crítica é a situação. O governante se acha esperto quando tenta repassar aos antecessores tudo que há de ruim ou problemático. Mas agora no Rio está um pouco mais difícil.

A responsabilidade não é do governador Sérgio Cabral, pois ele é aliado do governo federal. Uma alternativa seria colocar a culpa em Anthony e Rosinha Garotinho, que vieram antes de Cabral e administraram cada um durante quatro anos. Mas os Garotinho estão no PR e apoiam a candidata do PT, Dilma Rousseff.

Bem, ufa!, teve o tucano Marcello Alencar entre 1995 e 1998. E antes de Alencar? Entre 1991 e 1994 o governador foi Leonel Brizola, que já governara o Rio de 1983 a 1987.

Só que não dá para falar mal de Brizola quando um herdeiro político dele, Carlos Roberto Lupi, comanda o PDT e está de armas e bagagens na candidatura governista.

Sobrou alguém? O peemedebista Moreira Franco, que governou entre 1987 e 1991. Mas ele também integra hoje a base de Lula, tem um cargo bacana no governo federal e compõe o núcleo duro do PMDB que manda.

Eis o rol dos governos no Rio desde a redemocratização.

Se não dá para culpar ninguém terreno, presente ou pretérito, vai acabar sobrando para Deus. Ele que se vire. A regra é simples e de fácil aplicação.

A inundação é no governo do adversário? A culpa é dele. A inundação é no nosso, ou no de um amigo nosso? A culpa é d'Ele.